As pessoas agem como sentem.

(Vincent, p. 10)

Escrevo sobre Vincent van Gogh: Minha história: A vida do pintor contada por ele mesmo, da professora, editora e doutoranda em Teoria Literária pela Uniandrade, Joinville, Santa Catarina, Ana Lúcia Corrêa Darú. Escrevo às vésperas do meu aniversário no 21 de novembro de 2023.

Ana consegue realizar no livro de estreia, de maneira magistral, o que defendi na minha tese de doutorado em Escrita Criativa (PUCRS, 2018), Doze horas: o mito individual em uma autobioficção. Na minha tese, afirmo que a “autobioficção encontra-se no interstício entre a autobiografia e a autoficção.

Ela traz resquícios da realidade, sem ser totalmente realidade; metáforas ficcionais, sem ser totalmente ficção. Na autobioficção, os dados reais deslizam da autobiografia para a autoficção, e vice-versa, em uma estrutura vazia, como se fosse uma carcaça” (Patricia, 2019, p. 106).

A partir de uma extensa pesquisa sobre as cartas e vida de Vincent van Gogh (1853-1890), Ana dá voz ao pintor holandês que somente conseguiu vender um quadro (para Anna Boch, 1888) e ser reconhecido por um único crítico de arte (por Gabriel-Albert Aurier, 1890) enquanto vivo.     

Vincent nos consola na busca pelo reconhecimento, desejo natural de todo ser humano desde o momento que tem consciência do seu estar-no-mundo. Ele nos aconselha a “decupar” o mundo em camadas para extrair a essência e transformar em arte, assim como estar sempre em movimento para suportar e sublimar a solidão.

A grande sacada de Ana, e que nós, como pessoas que morrem um pouco a cada dia quando não conseguem escrever, é se apropriar da voz, ou melhor, da linguagem do objeto de pesquisa, Vincent, através da leitura profunda das 820 cartas que ele próprio escreveu em vida, a maioria para o amado irmão Theo. Nas cartas, assim como nas pinturas e desenhos, Vincent falava exclusivamente de si, “minha inspiração e consciência queriam mostrar a vida que eu próprio vivia” (Ana/Vincent, p. 63).

Vincent lutava contra a falta de reconhecimento de seu trabalho na sociedade artística da época, mas, principalmente, da própria família – leia-se o pai, o pastor Theodorus van Gogh –, com exceção de Theo. Mas Vincent era um resistente. No fundo, acreditava na própria obra, apesar da falta que o olhar do outro tão dolorosamente nos faz. Vincent, através da voz que Ana o dá, afirma que “o homem que chegou a Haia, contrariado com o pai, buscando refúgio, foi adotado pela arte” (Ana/Vincent, p, 70).

Em outra passagem da autobioficção de Ana, Vincent afirma o que costumo ensinar nas aulas on-line e presenciais de Escrita Criativa: “Porém, o aprendizado artístico requer uma retroalimentação que vem do estudo, do treino e também da convivência com outras obras e artistas, de modo a ampliar o repertório do artista em formação” (Ana/Vincent, p. 85).

Além da intuição ou inspiração criadora, técnica ou estudo diário e ofício ou trabalho contínuo que Ariano Suassuna nos ensina em Iniciação à estética e que não canso de repetir aos meus alunos, Vincent (através de Ana, através de Patricia, através de …) nos encoraja a não desistirmos jamais do Amor Perfeito que é a realização de nossa Arte (Pintura, Escrita, Música…), porque nela não nos sentimos sós, encontramos abrigo, apesar do mundo caótico e insensível lá fora, porque “estivesse onde estivesse, as minhas tintas e telas eram minhas companhias amorosas” (Ana/Vincent, p. 158).

“Por meio da Arte se vive eternamente” (Ana/Vincent, p. 217). Na melancolia natural de véspera de aniversário, quando revivemos nossas vidas como se fosse um filme, uma música, um livro, com partes boas, outras ruins, não importa.

O que importa é manter a fagulha da criação divina acesa em nossos corações, fagulha que nos salva, nos consola, nos acolhe, sem preconceitos, sem diferenças de raças, gêneros, religiões, classes sociais, um mundo de Paz, Luz e Cores que Vincent van Gogh e Ana Lúcia Corrêa Darú me presentearam nesses dez dias de leitura, e eu compartilharei com vocês amanhã, no meu aniversário, no 21 de novembro de 2023.