Insisto em acreditar no melhor do Ser Humano. Nas suas margens transbordantes, suas searas de Luz e Bondade.

         “A compulsão derivada das impressões dos primeiros anos de infância, e o que foi reprimido e se tornou inconsciente, não pode ser corrigido pelas experiências futuras.” (“Leonardo da Vinci – uma lembrança da sua infância”, Sigmund Freud)

        Carrego no peito um espaço intocado, onde entrevejo frestas de um Mundo melhor, mais justo, um Mundo de Amor e Harmonia.

        “Na cena do texto não há ribalta: não existe por trás do texto ninguém ativo (o escritor) e diante dele ninguém passivo (o leitor); não há um sujeito e um objeto. O texto prescreve as atitudes gramaticais: é o olho indiferenciado de que fala um autor excessivo (Angelus Silesius): “O olho por onde eu vejo Deus é o mesmo olho por onde ele me vê.”” (O prazer do texto, Roland Barthes)

        Mas a Bondade e a Maldade reside em mim ou traço escolhas de Bem e Mal? O Destino ou o Livre arbítrio? A Palavra ou o Silêncio?

        “Falta bom senso e juízo a esta gente; têm os olhos tão fechados que não vêem, seus corações não podem compreender. Ninguém reflete nem tem bom senso e inteligência para se dizer: “Queimei metade (da madeira), cozi pão sobre a brasa, aí assei a carne que comi e iria eu fazer do resto um ídolo miserável? Prostrar-me-ia diante de um pedaço de madeira? Este homem se nutre de cinzas, seu coração desabusado o desencaminha, ele não consegue salvar-se nem dizer: “Não será um logro o que tenho nas mãos?” (Isaías, 44, 18-20)

        Disfarço em mentiras ou crio ficções? Escrevo o texto ou ele me inscreve?

        “A fruição do texto não é precária, é pior: precoce; não surge no devido tempo, não depende de nenhum amadurecimento. Tudo é arrebatado numa só vez. Este arrebatamento é evidente na pintura, a que se faz hoje: desde que é compreendido, o princípio da perda se torna ineficaz, é preciso passar a outra coisa. Tudo é jogado, tudo é fruído na primeira vista”. (O prazer do texto, Roland Barthes)

        Bato no peito, acendo chama. Procuro a porta onde me vejo Imagem e Semelhança de quem me criou.

Imagem e Semelhança – D´Agostinho (CD com Carlos Ferrera & Karynna Spinelli)

Imagem e semelhança

Patricia Tenório

“D´Agostinho”, 2010

A aparência

Nunca me trouxe

Mau juízo

As palavras cítricas

Transmutei em leite e mel

Aproveitando

De cada um

O que de melhor possuía

Varro os pecados alheios

Não me interessam

Não me revelam

A luz do centro

A cor de um sorriso

Ingênuo

Pacífico

Carente de amor e harmonia

Degusto

O doce ser humano

Acalanto

O sonho

Alimento

A alma

Revelando

De cada um

O que de melhor possuía

         Aprumo o compasso do que fui, do que sou agora, o que me espera amanhã.

        “(…) não somos bastante sutis para nos apercebermos do escoamento provavelmente absoluto do devir; o permanente só existe graças a nossos órgãos grosseiros que resumem e reduzem as coisas a planos comuns, quando nada existe sob essa forma. A árvore é a cada instante uma coisa nova; nós afirmamos a forma porque não apreendemos a sutileza de um movimento absoluto (Nietzche, extraído de O prazer do texto, Roland Barthes)

        “E que me alargues as fronteiras” ([1]) da Alma, Arte e Espírito unos e santos, barro e criador, pelos séculos e séculos… Amém!

        “Texto quer dizer Tecido; mas, enquanto até aqui esse tecido foi sempre tomado por um produto, por um véu todo acabado, por trás do qual se mantém, mais ou menos oculto, o sentido (a verdade), nós acentuamos agora, no tecido, a ideia gerativa de que o texto se faz, se trabalha através de um entrelaçamento perpétuo; perdido neste tecido – nessa textura – o sujeito se desfaz nele, qual uma aranha que se dissolvesse ela mesma nas secreções construtivas de sua teia.” (O prazer do texto, Roland Barthes)

O sonho é o único direito, Patricia Tenório

Filmado em Cannon 7D. Editado em Final Cut Program.

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(1) Oração de Jabez (“Oh! Que me abençoes / E me alargues as fronteiras, / Que seja comigo a Tua mão / E me preserves do mal, / De modo que não me sobrevenha aflição!” (1 Crônicas 4: 9)