Persistência
Exercitando o prazer da espera, cozinhava as pedras daquele reino em banho-
maria pra fazer mingau.
Já era de manhã quando o dia amanheceu líquido, em pasta.
II
De Dentro
cansaço de olhar, sob as pernas acesas, o descanso das mãos ilegítimas
uma faca centrada na espera:
o prazer é uma coceira na palma do pé sob o sol de queimar os cascos
– meio-dia –
ele amolou a injeção proibida de alumínio e partiu seu coração ao meio,
deixando os pedaços no chão ardente.
XI
Exercícios de espera
A falta é esta linha de arame furando os olhos quando em vez
A falta: linha de arame rasgando os olhos e costurando a cru o peito necrosado.
Sob a necrose da ferida exposta, a geografia da distância inscreve com linhas de arame a palavra: ausência
XII
Schiele
“A exatidade da aurora inaugurou mistérios, adestrando o prazer quente do inverno ao polimorfismo do desejo”
Assim, recostado sobre o ombro frio do corpo morto, definiu o cadáver da mulher, preso à tela com pregos fictícios.
XVI
Cravou-se no olho, o arame da discórdia. Penetrado o artifício, queimam-se faíscas apagadas num ardor feito insetos sob ferida exposta.
No globo:
A gleba,
O esbranquiçamento.
Intimidade é o globo ocular permitir-se à leitosidade da catarata viva.
___________________________
* Contato: danuzakryshna@gmail.com