A Lauro da Escóssia

 

Dizem que puxei a meu avô

Que gosto de livros

Do soletrar

De versos

Do rimar

Que durmo bem

Mas, bem, gosto de sonhar.

Dizem que não posso negar

Trouxe no gene

O cheiro de tinta

O verbo solto

Que aprisiona

Mas tende a libertar.

Dizem que saí ao meu avô

No cabelo puro ouro

No jeito afobado

No joelho que arde

Ao caminhar.

Dizem tudo isso

Aceito sem reclamar

E sinto uma saudade danada

A me apunhalar.

*

Pasárgada

 

Lá sinto

O que o mundo pode me dar

Lá fico

Para ver a banda passar

Lá eu sei

Onde posso chegar

Lá tudo pode se transformar

Tal qual um coração que ama

Sem mistérios escondidos

Irmão do corpo amado

Muitos segredos conhecidos.

Lá deito-me e rolo

Sem medo de me machucar

Lá sinto

O carinho mais puro a me banhar

E paraliso os sentidos

Vendo o tempo fluir

Lá faço

Amor sem ter que me preocupar

Sem hipocrisia ferina

Idêntico a uma criança

Igual à brisa do mar

Na total bonança

Lá eu sei

Para onde vou

Lá eu sei

Quem sou

Lá eu sei

Como eu dou ou não dou

Lá tenho

Certeza de onde estou

Em total harmonia

Com a natureza

Em sintonia

Com o amor.

*

Brilho do olhar

 

Cheirar, beijar, roçar a minha pele na sua

Tentar chegar mais perto

Viver cada segundo juntinho

Me dando sempre mais um pouquinho

Sem importar

Se alguém vai comentar.

Desvendar os mistérios

Que existem em seu olhar

Acho que essa foi a missão

Que entregaram ao meu coração.

Sentir, dormir e unir

Seu corpo ao meu

Querendo mais que mero comício

Pois assim as paixões têm início

Com muito tesão

Findam no coração.

Distinguir quantos brilhos

Cintilam no brilho do teu olhar

Sinto que essa é a tentação

Que faz parte da minha paixão

Juntar, amarrar os meus cabelos aos seus

Que ao vento estão em desalinho

Nos fazendo por dentro um burburinho

Quando com sinceridade

Sentimos a presença de quem

Realmente nos quer.

Confirmar quantas vezes for preciso

Que o teu é o mais bonito

Sei que essa é a melodia

Que cantarei com harmonia.

Querendo na verdade, me envolver

Ou me desentender com você

Só assim poderemos

Sentir o peso de nós mesmos

Nessa relação de embaraços

De amores aos sobressaltos

E, se preciso, justificar

Que toda energia e força

Que em raios verdes transborda

Sempre me farão suspirar.

_________________________

Extraídos de Pétalas, Florina da Escóssia. Natal, RN: Sarau das Letras, 2014.

** Contato: Através de Clauder Arcanjo (clauderarcanjo@gmail.com) e David Leite (davidleite@hotmail.com).