Setembro, 2020

Capítulo 2 – As oficinas

            Setembro, 2006. A primeira aula do Atelier d’Ecriture da Sorbonne. Eu, aprendiz da língua francesa, havia me aventurado a viver uma oficina literária em Paris, França, especialmente na Université Paris IV, com Laurenne Gérvasi. Um grande sonho.

Era o ápice do que eu havia construído até então, nos “longos seriam os caminhos, perigosos seriam os caminhos, tortuosos seriam os caminhos”[1] da literatura. Após o fechamento da Livraria Domenico, que vimos no capítulo anterior, me iniciei, em 2004, na Oficina Literária Raimundo Carreiro, na Livraria Nobel, em Recife; em maio de 2006, naveguei (e gostei, veremos nos próximos capítulos) na Oficina Literária Assis Brasil, ancorada na PUCRS, em Porto Alegre; e, em setembro do mesmo ano, aterrizei por quase cinco meses na Paris de Charles Baudelaire, Eugène Delacroix, Honoré de Balzac, Gustave Flaubert. E Isabelle Macor-Filarska.

Porque foi Isabelle, com suas aulas de reforço além da Aliança Francesa, que me ajudou imensamente a descortinar a língua estrangeira e escrever como se fosse uma nativa, eu, Patricia, da pátria Brasil, mas em trânsito pela Cidade Luz. A princípio, eu escrevia em francês, mas pensando em português. Isabelle me fez sair da língua materna e mergulhar mais profundamente na criação poética – devo a ela o quebrar de barreiras com a Poesia, eu que escrevia mais Ficção. Apreendi que a Escrita é universal, e, no momento em que tomamos papel e lápis ou caneta, teclado e tela de computador, somos irmãos e irmãs na Escritura, nada mais importa, se escrevemos em português, francês, qualquer língua do planeta, até chegarmos à Librairie Portugal, no 146, Rue du Chevaleret, e lançarmos As joaninhas não mentem, no dia 30 dos mesmos mês e ano, alargando as fronteiras da Escrita Criativa em mim.

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* Coluna publicada mensalmente nos blogs www.veragora.com.br/tesaoliterario e www.patriciatenorio.com.br.      

** Escritora, dezessete livros publicados, sendo um em formato vídeo-podcast, mestre em Teoria da Literatura (UFPE) e doutora em Escrita Criativa (PUCRS). Contatos: grupodeestudos.escritacriativa@gmail.com e https://www.youtube.com/estudosemescritacriativa

[1] Frase de As joaninhas não mentem, publicado, em 2006, pela extinta Editora Calibán, do Rio de Janeiro, em 2019, pela Raio de Sol, no 7 por 11, da Coleção Cinco Livros, e vencedor do Prêmio de Melhor Romance Estrangeiro da Accademia Internazionale Il Convivio (2008), na Itália.