MÃE TERRA
Sou terra nua e crua
Sedenta das águas
de minhas entranhas.
Venço a crueldade nutrindo
a fome das bocas vazias.
Liberto sementes para
alimentar o futuro.
Subjugo a vergonha das diferenças
na busca do tempo da temperança
da amizade.
Intolerâncias e indiferenças
não encobrem
no meu horizonte
a esperança.
DESFAVORECIDO
para Laura Esteves
Saí da casa de Laura
feliz como o vento.
Apenas a poesia
a dominar meus pensamentos.
Sapatos batucando
nas pedras portuguesas de Copacabana.
O mudo me chamou
no corpo na calçada
coberto até a cabeça pela manta.
Diminui o passo cautelosamente
e pé ante pé deixei que o silêncio
permitisse o sono
de quem sem proteção
vivia
mais uma noite fria.
NÃO À VIOLÊNCIA
Quero proteger suas mãos com as minhas.
Encobrir o vento com meu corpo.
Fazer da palavra a defesa necessária.
Percorrer caminhos em busca da verdade.
Ir além perseguindo o presente.
Sonhar com o amanhã.
Trafegar na liberdade do tempo.
Ser poente ensolarado.
Não esquecer a música da chuva
a bruma da manhã.
Relembrar a vida que brota dia a dia na terra.
Sementes que germinam lentamente no seu tempo
Ver a colheita florescer.
Colher.
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* Extraídos de Ralo Urbano, Juçara Valverde. Rio de Janeiro: Oficina, 2011.
*Juçara Valverde é medica, poetisa, artista plástica. Contato: jucvalverde@gmail.com