Você me diz:
feliz ano novo.
Eu lhe digo:
não deixe morrer
o ano que terminou.

Não deixe perder-se
no vazio inexorável
a fonte do amor.

Não deixe que se vá
o sentido de existir:
cumprir à risca
o que exige a vida.

Você me diz:
tampouco, você, não descuide
dos azares da sorte.
Viver é romper fronteiras
entre a morte e a vida;
entre o que é
e o que não é.

Eu lhe digo:
sejamos pois o que somos
– há um pouco de cada um em todos.

Arremessemos ao futuro
esse poder de sonhar,
de sorrir, de chorar, de gritar
e este poder imenso
de cantar.

Acolha-nos o tempo
como quem, à maneira da Terra,
faz germinar
o que seremos.

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* Alcides Buss foi professor de Teoria da Literatura na Universidade Federal de Santa Catarina (1980-2008), com toda a poesia do mundo no olhar. 

Contatosalcides-buss@hotmail.com e www.alcidesbuss.com