Extraídos de Gênese, Sarau das Letras – RN, 2012
Sobre a liberdade
Bebi todas as palavras de amargura;
Saboreei dos martírios
A maior das contraposições:
A incoerência de ser
E o terrível temor do funéreo
William haveria de abraçar-me
E carregar-me pela mão
Sobre este solo cor de incerteza
Apenas o poeta
Que não mais tem receio do fim
Seria de todo livre
Disse uma vez um palerma,
Daqueles vestidos dos pés à cabeça
Pelo fino tecido da insegurança,
Que só a liberdade tinha autoridade sobre ele,
Sem nem desconfiar
Que não é nem poeta
E tem medo do tempo,
Das horas que passam e levam…
Levam-nos, lavam-nos.
Soneto em apologia à leitura
Já é noite e ainda não li coisa alguma,
Corro pela casa, em direção à estante.
Pego de um João Cabral de Melo Neto
Ou qualquer outro, que apenas o seja
Folheio, cheiro, passo as páginas,
Sinto cada palavra, mergulho enfim,
Passam os minutos e as horas, que seja!
Estou de conversa com um grande amigo
Ah, fiel e compreensivo companheiro,
De quantos lares tens sido expulso?
Quanta emoção e/ou ciência guardas!
E ainda te vejo de escanteio, por aí.
Alguns nem se dão ao trabalho de tocar-te,
Talvez tu sejas demais para esses alguns.
A não procura da poesia
Não vou abusar da poesia
Não vou sair por aí,
Atinando,
Ver se encontro poesia
Poesia, não vou gritar por você
Não vou ficar insistindo
Que você me dê um abraço
Guarde seu abraço
Para o instante mais indispensável,
O mais desejável,
Em que você não poderá faltar
Por favor,
Quando chegar esse momento,
Ponha-se sobre a mesa
E enche meu bucho de você,
Nobre poesia, pobre poesia –
Não interessa,
Que apenas seja poesia
Ratifico:
Não vou procurar por você
Feito um desesperado
Todavia,
É mesmo que clamar:
Venha, poesia, habite-me,
Exponha-se, escreva-se,
Utilize-se de meu lápis,
Abuse de meus dedos,
Rabisque meus papéis
Mas não estou a clamar por você.
Ou será que…?
Veja!, como você é obediente.
Veja!, linda conquista:
Esparrama-se por esta página
Outrora branca;
Será você mesma, poesia?
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* Leonam Lucas Nogueira Cunha nasceu em Areia Branca – RN, em 1º de maio de 1995. Graduando em Direito (UFRN), apresenta interesse por literatura, música, pintura, política, filosofia, sociologia, dentre outras ´reas do conhecimento. Uma das frases que mais aprecia: ‘Escrever como forma de oração’, do mestre Kafka. Gênese marca sua estreia literária em livro. Contato: leonam_cunha@hotmail.com