UMA LEITURA DE “O ENTERRO” (PORTINARI)**
Quatro homens conduzem o esquife
contendo um defunto anônimo
que segue para a plantação
dos corpos inertes;
os condutores vão a passos largos,
talvez temam que o defunto
resolva desdefuntar
(e a hora não é própria);
a cidade está deserta e sombria.
À distância de uma lua,
São Jorge os acompanha
no galope de seu cavalo alado;
parece clarear o fúnebre trajeto
para que os vivos e o morto
não se enfadem no percurso.
“Requiem æternam dona eis, Domine…”
Senhor, concede-lhes o eterno descanso
SONETORRADO***
No solo castigado pelo sol
já não há mais vestígio de verdor,
só resta o chão rachado e a grande dor
de ver, no céu, o fogo do farol.
Abraça desolado o girassol
que inda resiste ao fogo abrasador
que faz do sertanejo um sofredor,
pois terra seca é perda no paiol.
Deixa pra trás o chão de sua nascença,
leva, saudoso, a viola e sua crença
de que retorna um dia pro sertão.
Quando, enfim, chega a chuva sem tardança,
o sertanejo se enche de esperança
e eleva as mãos ao céu em gratidão.
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* Professor Carlos Alberto de Assis Cavalcanti. Poeta, autor de ITINERÁRIO POÉTICO, obra que recebeu Menção Honrosa em concurso nacional de poesia promovido pela Academia Pernambucana de Letras (2001). É detentor de vários prêmios nacionais nas modalidades: poesia moderna, sonetos e trovas. É membro-correspondente das Academias de Letras e Artes em: Ponta Grossa – PR, Cachoeiro do Itapemirim – ES, Rio de Janeiro – RJ. É delegado da UBT (União Brasileira de Trovadores) em Arcoverde. Mestre pela UFPE e professor de Literatura Brasileira no Centro de Ensino Superior de Arcoverde – PE. Contato: cajaprof@hotmail.com
** Texto finalista do Sesc Brasília – DF, Prêmio Carlos Drummond de Andrade, 2012.
*** 1º Lugar Nacional no Concurso de Sonetos Francisca Clotilde da Academia Tauense de Letras – CE, 2012.