Porto do Tempo
Olho para trás.
Amores, amigos, dores,
acenam do cais.
O tempo pousou bem ali,
descansa as asas.
Só uns segundos,
enquanto a inspiração não vem.
Vida breve
leve-me leve,
leve-me.
Que o tempo voa
e a morte,
por sorte,
nunca se atrasa.
Inteiramente
Metade de mim
sou eu – outra se esqueceu
que sou mesmo assim.
Há uma espera em mim,
que nunca alcança o fim.
Que se procura,
qual saudade sem cura.
Espinho que não cessa,
mordaça que não cala.
O gatilho e a bala.
Que só se deixa ver
pela porta entreaberta,
na cadeira vazia,
à meia-luz
na sala.
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* Poemas extraídos de Porto do tempo. Chico Alves d’Maria. Mossoró, RN: Sarau das Letras, 2019.
** Chico Alves d’Maria é o atual pseudônimo de Francisco Alves Filho, nascido em Areia Branca – RN, em 1955. É engenheiro, poeta, escritor, compositor, letrista, cantor e ator. Na literatura, estreou em 2016 com o livro de poesias Ancoradouros e, em 2017, lançou o livro de prosa denominado Contos de Areia. Agora, lança Porto do tempo, seu segundo livro de poesias.