Olho da janela do meu quarto e vejo o mar.
E vejo os “longos, perigosos, tortuosos” caminhos para chegar até aqui. Não sei se consegui chegar a algum “Monte da Resposta Perdida”. Mas fui à beira do abismo, conversei com o corvo Graco, a flor Isabel, abri as asas de Ícaro acolhendo a sacerdotisa do sol Laura. Ajudei Ariana e Manoela a vencerem a vertigem, encontrarem Átila e Pedro, o Amor Perfeito e a própria Voz.
Confessei os meus pecados junto com D’Agostinho, estudei cinema nos meus Diálogos, fui à França com Sans Nom, à Romênia com Fără nume, à Espanha com Veintiuno, à Itália e os prêmios da Accademia Internazionale Il Convivio.
Tudo isso por meio da palavra escrita e tantos mestres: Raimundo Carreiro, Karla Melo, Maria do Carmo Nino, Lourival Holanda… Luiz Antonio de Assis Brasil.
Abri livrarias – a Domenico –, me embrenhei em editoras – a Calibãn –, vasculhei teorias no meio acadêmico da Universidade Federal de Pernambuco (a UFPE), compartilhei a Escrita Criativa da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (a PUCRS) com Bernadete Bruto, Elba Lins, Luisa Bérard, Talita Bruto no grupo de Estudos em Escrita Criativa, no I Seminário Nacional em Escrita Criativa de Pernambuco da XI Bienal do Livro em 2017, nos encontros das Livrarias Cultura de Recife e Porto Alegre em 2018, no curso de Extensão na Unicap no primeiro semestre de 2019, e na Especialização Lato Sensu em Escrita Criativa na parceria entre a Unicap e a PUCRS que nasceu em 16 de agosto deste ano.
E aqui me encontro, quinze anos de escrita, quase cinquenta de vida, um mundo de sonhos em minhas mãos. Pedrinhas de sonhos, muitas delas brilhantes, outras, nem tanto assim.
Olho da janela do meu quarto e vejo o mar. E vejo ondas crispadas, ou mesmo, águas calmas e cristalinas.
Tudo depende de se acreditar na própria escrita, na própria voz, que as pedrinhas brilhantes, ao menos para mim, fizeram sentido, acalmaram a alma, fizeram sobreviver mais um dia, e mais outro, e, em novembro de 2019, me lançar em cinco livros, quinze anos de escrita, cinquenta anos de vida, três filhos, e, quem sabe, respirar feliz.
Se eu fosse um
Passarinho
Esqueceria as
Folhas mortas
Do passado
Arrancaria as
Ervas daninhas
Do presente
E passearia
Suavemente
No céu azul
Mas como
Não sou um
Passarinho
Vivo à cata
De migalhas
Vivo em busca
De palavras
Assim
Pequenininhas
Que possam
Traduzir
Por um segundo
A imensidão
De eternidade
Presa aqui
No meu peito
(“Quem escreve não se cansa de buscar”. In 14. Patricia Gonçalves Tenório)