O Bailarino
Com as pontas dos pés
O bailarino tocava as copas das árvores.
O bailarino girava
Vestido de lua e vento
Sob o céu noturno
De milhões de olhos acesos.
Deslizava como dedos
Ao piano
Em sonata de Chopin.
O bailarino bailava
Sob a luz
Da esbugalhada lua
Sob o riso
De um asteroide
– risco –
Astros vivos e morrentes
Lume luz.
Vestido de desalento
O bailarino voava
Por sobre as copas das árvores
Enchia de nada a noite
Cortava o espaço dormente…
E a sua solidão
Sabida só pela boca
Tangida só pelas cordas
De um trágico anfitrião
Desafinava no tempo
Caía em folhas ao vento
Por sob as copas das árvores
Ainda que fora disso
Muito acima de seus pés
Este hábil bailarino
Bailasse mais que a soberba
Roda gigante da vida
Que roda e gira possante
Na vertusta e estonteante
Velocidade da luz.
Grão Milagre
Houve um tempo em que eu pensei não ser
O que era e estava lá desde o princípio…
Houve um tempo em que eu tentei
Calar a música que tocava
No fundo do meu ser silente.
Tudo era como dizer ao sol que não nascesse
Ou dar ordens aos ventos
Para que seguissem outro curso.
Eu descobri então que não se pode interromper
Com as mãos a dança de um rio…
A gente é e para isso nasce.
O pulso às vezes dói mas é sublime e
– mesmo que eu não quisesse –
Morava e ainda mora e há de morar
Nas veias como em ostra o grão milagre!…
Poema Simplicíssimo
Um poema que tivesse
Toda a poesia do mundo
Eu to daria – se soubesse!
Um poema que unisse
Luz e sublimação
E que fugisse
Logo da minha mão
Assim que eu o desse
A ti – em canção –
(Indo pousar na messe
Do teu coração)
Eu to daria – se pudesse!
Um poema de verso forte
Como a sorte
E feliz como a raiz
Mais nobre que o céu cobre –
A ti o faria
Com alegria!
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* Extraídos de Nas pontas dos pés. Antonio Fabiano. Mossoró, RN: Sarau das Letras, 2015.
* Contato: www.antoniofabiano.blogspot.com.br