Tecer-Creta
Poeta de Meia-Tigela – Alves de Aquino
Estas linhas contínuas que desfio
– aranha que de si um fio excreta –
Estas linhas nem sempre em linha reta
– sujeitas ao desvão ao val desvio –
Estas linhas correntes como um rio
não têm no desaguar no mar a meta:
se uma força as conduz adiante ejeta-as
ou elas dão-se ao risco ao desafio
de serem, dessemelham-se da seta
– dirigem-se ao errático extravio
da busca – porém por via indireta
Dizem existir mas mantêm secreta
a saída: estas linhas são o lio
o estar no labirinto o tecer-Creta
“Viver não é atravessar um campo” – B. Pasternak
Nina Rizzi
coisas vermelhas caem estridentes
sobre a neve compacta
uma cachaça ordinária
meia dúzia de laranjas-lima
paixão
fome
esquizofrenia
abismo
a vida atravessa os dasht-e-lutssanguidolentes
as sibérias impossíveis
o vermelho da gente escorre quieto
sob o deserto
um silêncio de ossos
uma comunhão com o nada
Felinae
Luciano Bonfim
1/ Alta noite, céu nublado.
De repente um alarido:
Gatos reviram o telhado
2/ Três gatos cortejam a lua!
Era uma vez a poesia
Vagando na minha rua
3/ Na quietude da noite
Dois faróis sobre o muro
[Olhos de gato no escuro]
4/ Natural teorema
– O pulo do gato –
Inverso poema.
5/ De fato
A lua na poça
Sucumbe à elegância do gato.
6/ O “canto” do gato é abismo.
Meu sono?
O gato comeu!
A Rainha de Sabá
Patricia (Gonçalves) Tenório
Queria ter
Outra vida
Em que pudesse
Ser
Eu mesma
E somente
Amar
Estou cansada
Dessas
Guerras
Estou cansada
Dessas
Brigas
De quem é melhor
Do que
Ninguém
Estou cansada
De odiar
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* Mutirão #2. Organização: Poeta de Meia-Tigela. Participação: Aíla Sampaio, Augusto Secundino, Dércio Brauna et al. Fortaleza, CE: Expressão Gráfica e Editora, 2016.
** Contato: poetademeiatigela@yahoo.com.br