Os espelhos são usados para ver o rosto; a arte para ver a alma.
George Bernard Shaw
De Março a Junho de 2012 tive o privilégio de participar como ouvinte da turma de Leitura de Imagens da Prof. Dra. Maria do Carmo Nino no curso de Mestrado em Letras da Universidade Federal de Pernambuco.
Foram tardes de quintas-feiras inesquecíveis, onde trabalhamos o olhar, a apreensão das imagens, traduzindo-as em significado e sentido para as nossas vidas. Guiados por mestres como John Berger, Lucia Santaella, C.S. Peirce, Winfried Nöth… e artistas das mais diversas áreas (Artes Plásticas, Literatura, Cinema, Fotografia…) e épocas, 18 alunos foram orientados e despertados pela Prof. a extrair de si a Arte que habita em cada um de nós.
Sou do pensamento que o artista deve possuir o talento, a inspiração e o estudo (ver http://www.patriciatenorio.com.br/?p=3145). O estudo constante, persistente, insistente para que a sua Arte floresça, cresça e dê bons frutos. Agradeço a Prof. Maria do Carmo e a todos os meus colegas que me acolheram e me ajudaram a ser, antes de tudo, uma pessoa maior e melhor após esta experiência.
A minha homenagem e gratidão vai em forma do último exercício demandado. A partir de uma obra de arte visual criada pelo próprio aluno, fazer um diálogo com alguma poesia (sua ou de outro autor) e refletir à luz de Lúcia Santaella e Winfried Nöth, no livro estudado Imagem: cognição, semiótica, mídia, São Paulo: Iluminuras, 2010.
Apresento a vocês, “Leitura de Imagens”.
Um grande abraço da
Patricia Tenório.
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Amaro Braga
Tédio
Charles Baudelaire
Tenho as recordações d’um velho milenário!
Um grande contador, um prodigioso armário,
Cheinho, a abarrotar, de cartas memoriais,
Bilhetinhos de amor, recibos, madrigais,
Mais segredos não tem do que eu na mente abrigo.
Meu cérebro faz lembrar descomunal jazigo;
Nem a vala comum encerra tanto morto!
— Eu sou um cemitério estranho, sem conforto,
Onde vermes aos mil — remorsos doloridos,
Atacam de preferência os meus mortos queridos.
Eu sou um toucador, com rosas desbotadas,
Onde jazem no chão as modas desprezadas,
E onde, sós, tristemente, os quadros de Boucher
Fluem o doce olor d’um frasco de Gellé.
Nada pode igualar os dias tormentosos
Em que, sob a pressão de invernos rigorosos,
O Tédio, fruto infeliz da incuriosidade,
Alcança as proporções da Imortalidade.
— Desde hoje, não és mais, ó matéria vivente,
Do que granito envolto em terror inconsciente.
A emergir d’um Saarah movediço, brumoso!
Velha esfinge que dorme um sono misterioso,
Esquecida, ignorada, e cuja face fria
Só brilha quando o Sol dá a boa-noite ao dia!
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Cláudio Clésio
Tema de Marluce
De Jose Luis Paredis ou Cláudio Eufrausino?
Marluce conversa com a fé
Como o horizonte conversa com o farol
Quando ela ri, começo a sonhar
Quando ela fala, eu tenho em quem acreditar
Na luz do Mar, Marluce
Na luz do Céu, céu-luce
Com ela, a luz da lua é tão forte quanto a luz solar
Se rio com Marluce,
Se choro com Marluce,
Com ela, vejo-sinto sempre meu olhar brilhar
httpv://www.youtube.com/watch?v=xzFvMBa9H2M
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Felipe Ferreira
Como diria Odair
Zeca Baleiro
A felicidade é uma coisa tão difícil
Tão difícil de conseguir
Mas de vez em quando ela chega
Quando menos se espera
Quando nada se espera
Ela vem
E fica um pouco aqui comigo
Por algumas horas, minutos, segundos
Como já falou o sábio poeta Odair
Ouve aí:
Felicidade não existe, só momentos felizes
No mais são cruzes e crises
Sempre que eu tô feliz
Logo vem um infeliz
Se fingindo de amigo
Querendo apagar o meu sorriso
Que é o mais próximo do paraíso que eu consigo
Quando menos se espera
Quando nada se espera
Ela vem, vai, vem, vai, vem, vai, vem, vai
Vem, vai, vem, vai, vem, vai, vem, vai…
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Hugo Santos
A prosa impúrpura do Caicó
Chico César
Ah! Caicó arcaico
Em meu peito catolaico
Tudo é descrença e fé
Ah! Caicó arcaico
Meu cashcouer mallarmaico
Tudo rejeita e quer
É com, é sem
Milhão e vintém
Todo mundo e ninguém
Pé de xique-xique, pé de flor
Relabucho, velório
Videogame, oratório
High-cult, simplório
Amor sem fim, desamor
Sexo no-iê, Oxente,
oh! Shit, Cego Aderaldo
olhando pra mim
Moonwalkmam
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Jacinto dos Santos
Num tempo de chuva
Jacinto dos Santos
26/05/12
Pinto com meus olhos meu retrato
E faço com o pincel
Gota a gota uma manhã.
Como a chuva que corre inundando
De cores minha fugaz existência,
Corro ao encontro dos campos nublados
Buscando um pedaço perdido
Duma natureza.
Encharcada minha alma de mim mesmo,
Tremulo.
Minha garganta rasga num grito
A secura cinza e ampla de uma história vaporosa
Que despenca sobre o verde
De uma primavera esquecida do vermelho, do amarelo de uma flor.
Tudo, num átimo, esvoaça-se num horizonte
Perdido na linha da memória volátil.
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Vinícius Gomes
Nascemorre
Haroldo de Campos
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Wanessa Loyo
Barcos
Sophia de Mello Breyner Andersen
Dormem na praia os barcos pescadores
Imóveis mas abrindo
Os seus olhos de estátua
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* Maria do Carmo Nino possui graduação em Arquitetura pela Universidade Federal de Pernambuco (1980) e doutorado em Doctorat en Arts Plastiques et Sciences de Art – Université Paris 1 (Panthéon-Sorbonne) (1995). Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de Pernambuco. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Fotografia, atuando principalmente nos seguintes temas: arte contemporânea, fotografia, história da arte e crítica de arte, cinema e literatura. Contato: carmonino@gmail.com
Que belo trabalho de imagem e poesia!
Agradeço em nome dos colegas e da Prof. Maria do Carmo, caríssima Lourdes! Um abraço bem, bem grande!
Gostei muito da ideia de a imagem sendo um elo do fazer poético transtemporal e também da ancoragem com as ideias de Barthes. Além disso, poesia em Italiano é o que há. Obrigado por tudo, Patrícia!
Obrigada a você, Cláudio! Repito: foi um prazer tê-lo conhecido e aos colegas da turma da Prof. Maria do Carmo… Cresci muuuuito! Um abraço bem, bem grande!