Patricia Tenório
26/09/10
O que tem a ver Albert Einstein, O retrato de Dorian Gray, o Renascimento, Milton Nascimento e Emilson Zorzi?
Albert Einstein sempre rondou meu imaginário, seja na admiração que meu pai tem por ele, seja num desejo antigo meu de ser cientista. Desejo meu ou desejo do outro que é meu pai, materializando-se através da filha mais velha?
Retornei de uma viagem pela Itália, particularmente visitei a Toscana. Aproveitei a ocasião para estudar in locuo sobre o Renascimento.
Há mais ou menos dois meses terminei de ler O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde. Havia lido e muito me impressionou De Profundis e A alma do homem sob o socialismo.
No voo de volta da Itália, assisti Einstein & Eddington([1]).
Trata-se de um trecho da vida de Albert Einstein quando, com a ajuda de Arthur Eddington, descobre a Teoria da Relatividade. O que mais me toca no filme, além da fotografia de uma Cambridge do início do século XX e uma Berlim a caminho da 1ª Grande Guerra Mundial, é a delicadeza e a violência ao mesmo tempo do gênio criador. Eddington, apesar de Einstein pertencer à nação inimiga, defende a Ciência acima dos preconceitos e atrocidades humanas. Einstein permanece em seu centro, ou procura permanecer, ainda que solitário, ainda que forçado a assinar uma lista de 93 cientistas a favor do Kaiser, ele encontra em si sua máxima coerência. Lembro do livro Como vejo o mundo onde Albert Einstein discorre sobre temas diversos. Abre com uma crônica homônima ao título e se considera “profundamente um solitário”, mas ao mesmo tempo crê “profundamente na humanidade”, apesar da sua “inconsistência”.
Certas Canções – Milton Nascimento
A máxima do Renascimento foi a imitação como forma de aprendizado. Segundo Alexandre Ragazzi([2])…
“… o artista, por meio da imitação de diversos modelos, fatalmente acabaria por criar uma nova obra.”
Ao processo de imitação caberia seguir o outro, se equiparar a esse outro e superá-lo. Através da cópia, da humildade do discípulo em abrir-se aos ensinamentos e conhecimentos do mestre, uma fresta ilumina o que em si habita, e, através do estudo, contínuo e persistente, pode ser revelado. A escavação, às vezes, leva toda uma vida se assim o quiser, tornando-se independente de seu mestre caso seja esta a sua natureza.
Retiramos máscaras atrás de máscaras e não nos reconhecemos mais, e não aceitamos que eram apenas máscaras o que usávamos quando nos aparentávamos bons, belos, próximos à imagem e semelhança divina. Mas vem O retrato de Dorian Gray e nos retira mais uma máscara de vaidade, e nos faz cair ao rés-do-chão e apanhar as últimas partículas do ser, tentando montar um espelho partido do outro, um espelho que precisamos para nos reconhecer e nos por em pé novamente e tentar desfazer os nós que em nós mesmos criamos.
Desfazem
nós
tramam…
nós seguimos, nós
desfazemos,
um a um, nó, só, nós…
desfazem-se os nós,
nós,
podemos desfazer os nós, contras e prós
nós e nós
nós com nós com nós
não há nós
fio reto para tecer-nos
ternos ex-nós
(Nós, Emilson Zorzi)
Param
As vespas cantantes
No santuário
Do meu canto límpido
Você
Atravessa o espaço
Outrora alheio
Agora nosso
Para
Desfazer os nós
Que em nós se armaram
Até os ossos
Vem
Na manhã fria
Uma luz, um fio
A costurar palavras
Onde agora posso
Refazer os nós
Dos que se amaram
Até os ossos
(Nós, Patricia Tenório)
(1) Dirigido por Philip Martin, com Andy Serkis (Einstein) e David Tennant (Eddington).
(2) Revista O tempo do renascimento, Vol. 3 – 1480 a 1500.
Patrícia, interessante a relação entre os textos… principalmente qdo a gente pensa na importância das descobertas de Einstein…
Para complementar os poemas sobre nós, segue um q adoro, da Roseana Murray
Receita de desamarrar nós
desamarre os nós do sapato
depois desamarre os pés
desamarre os laços inúteis
os nós do que não serve mais
desamarre o barco do cais
os nós das janelas
e então deixo o vento….
Amei o poema de Roseana Murray! A arte para mim é isso, Ynah, esses encontros (e desencontros) que a vida e pessoas especiais como você nos oferecem… 🙂 Bjs.
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