Parte 1
Arcanos Maiores
III
Nunca vou deixar de fazer o que
quero fazer pela opinião
dos outros!
Estou aqui
fui chamada
por um algo tão forte
que me põe de pé
nesse momento
um algo tão forte
que me faz respirar
sem eu mesma querer
um algo tão forte
que me faz não ter domínio
de mim mesma
Nunca vou deixar de fazer nada
que quero fazer pelos outros
pela crítica
pela prisão
pela repreensão
pelo jugo
assim como não faço obrigada a fazer
pois, para mim,
Os outros são objetivações da vida
e eu obedeço somente o além desta
O além de tudo
A minha energia é uma forma que
Se materializa
Aquilo que me faz
Aquilo que me fez
Aquilo que resulta tudo e a todos: é
muito forte!
E eu obedeço.
O resto são insetos: moscas varejeiras…
XX
Tudo permanece tão dentro de mim
Que não se manifesta
Fica dando facada
Em meu espírito
As memórias
Castigam-me
Congelam-me
Tacitamente
E de repente Paralisada. Absolutamente
Me calarei
Na reflexão
Infinita…
Parte 2
A Valsa Leve
Querubins de sonhos longe daqui
Eu virei uma pessoa muito séria
E já não consigo sentir tanta graça assim
Não é tão fácil viver dessa maneira
Descanso todos os querubins de sonhos longe
daqui
(Não conseguem ter ar dentro dessa multidão
de dor)
Meus lábios se tocam e não abrem
Minhas mãos estão sempre e somente no ros-
to ou debaixo do queixo
E vendo todo mundo rir
Eu não consigo ser jovem
Sempre fui velha
Uma velhinha que finge sorrir
Pois eu não sou dessa nova
Era
Eu me perdi…
Talvez nunca tão longe como agora.
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* Poemas extraídos de Arcanos Maiores e A Valsa Leve, Alessandra Bessa. Guaratinguetá, SP: Penalux, 2014.
** Enviado pelo Poeta de Meia-Tigela: poetademeiatigela@yahoo.com.br