“Saraivada”* | Iara Maria Carvalho**
Saraivada
apresse o passo,
que lá vem o silêncio.
corra:
ele consome
suas melhores preces.
voar é grande
– então voe.
exploda
espalhe
ecoe.
não recolha os cacos de
memória e osso
nem amacie o dorso ferido
dos campos minados.
desfira um golpe
misericordioso
no corpo sem carne
do silêncio.
e com o sangue escorrido,
escreva um livro.
Reavivar
sua boca auscultou
meu coração dinamitado
e um comboio de brisas
se instalou
na pele do meu pescoço.
seus dedos longos
brancos
e o seu pulso multicores
abarcaram
a louquidão dos meus odores.
caldo de lírios
paisagem densa do meu corpo
e o seu suave coração
iluminando as trevas do meu colo
semimorto.
Erótica
não quero colo
nem calo:
quero um falo
entre as telhas
do meu mel aguado.
coar o vinho pastoso
com a minha fenda oblíqua.
e acender poesia
com a flama recolhida.
________________________________________
* Saraivada, Iara Maria Carvalho. Mossoró, RN: Sarau das Letras, 2015.
** Contato: macabea33@gmail.com