Quero prestar uma homenagem a alguns artistas que tive o prazer e honra de conhecer quando na minha participação do VII Festival Internacional de Val-David, Quebec, Canadá, em Maio de 2013.
I want to pay tribute to some artists I had the pleasure and honor of knowing when of my participation in the VII International Festival of Val-David, Quebec, Canada, in May 2013.
La sonrisa de la luna
Flavia Cosma
Extraído de “El cuerpo de la luna”, Casa Del Poeta Peruano, Lima, Peru, 2013
Traducción del rumano: Luis Raúl Calvo
Me estiro para recoger las estrellas
y mi brazo rejuvenece, como uma rama verde;
me inclino para besar la tierra
y mis piernas se convierten em torres de iglesias
brillando altas, transparentes, en la lejanía.
Esas siervas com narices dilatadas
olfatean tus huellas
arriba de los cerros, en cuevas o en la alta cumbre,
los ojos verdes, almendrados del gato, te sienten,
te ven y te oyen,
siguen tu pensamiento en el techo,
resbalan junto a ti sobre mi cama
palpando perfiles,
nidos ocultos,
a orillas de mar,
permaneciendo allí donde las ondas son más claras,
las arenas más calientes,
el cielo más azul.
Insensato, el corazón desea más aún,
late en el ritmo de tu sangre
que regresa de su largo viaje
entre nosotros.
¿Qué es lo que tu oyes y yo no puedo oir?
¿Qué es lo que tu ves y yo no veo?
O sorriso da lua
Flavia Cosma
Extraído de “El cuerpo de la luna” (“O corpo da lua”), Casa Del Poeta Peruano, Lima, Peru, 2013
Tradução para o português: Patricia Tenório
Me estiro para recolher as estrelas
e meu braço rejuvenesce, como um ramo verde;
me inclino para beijar a terra
e minhas pernas se convertem em torres de igrejas
brilhando altas, transparentes, na distância.
Essas servas com narinas dilatadas
farejam tuas pegadas
em cima dos montes, em grutas ou na alta cúpula,
os olhos verdes, amendoados do gato, te sentem,
te vêem e te ouvem,
seguem teu pensamento no teto,
resvalam junto a ti sobre minha cama
apalpando perfis,
ninhos ocultos,
às margens do mar,
permanecendo ali onde as ondas são mais claras,
as areias mais quentes,
o céu mais azul.
Insensato, o coração deseja mais além,
bate no ritmo de teu sangue
que regressa de sua longa viagem
entre nós.
Que é o que tu ouves e eu não posso ouvir?
Que é o que tu vês e eu não vejo?
(flaviacosma@rogers.com)
Mai
Louise Dupré
Extrait de “Une écharde sous ton ongle”, Éditions du Noroît, Québec, Canadá, 2004
tu as été une femme
de peu de chose
un ruban, une bague
trouvée dans le sable
un rire
qui résonnait
entre deux combats
tu as traversé des mers
aussi noires que ton ventre
seulement pour capter
le vertige d’une danse
commencée à l’âge où l’on croit
aimer
les hommes que l’on aime
tu cherches maintenant un lieu
où ton ombre ne donne
aucune prise à la nostalgie
(…)
Mai
Louise Dupré
Extraído de “Une écharde sous ton ongle” (“Uma lasca sob tua unha”), Éditions du Noroît, Quebec, Canadá, 2004
Tradução para o português : Patricia Tenório
tu foste uma mulher
de poucas coisas
uma fita, um anel
encontrado na areia
um sorriso
que ressoava
entre dois combates
tu atravessaste mares
tão negros quanto teu ventre
somente para captar
a vertigem de uma dança
começada na idade onde cremos
amar
os homens que amamos
tu procuras agora um lugar
onde tua sombra dá
nenhum espaço à nostalgia
(…)
(dupre.louise@uqam.ca)
Elle s’avançait
Louis-Philippe Hébert
Extrait de “Vieillir”, Éditions Les Herbes Rouges, Québec, Canadá, 2011
Elle s’avançait
le doigt qui pontait devant elle
comme si tout son corps suivait son ongle
elle tremblait, à ce qu’il semble
de méchanceté
tellement qu’il se demandait
si elle n’allait pas s’écrouler
sous ses yeux
laissant dans les airs
à la hauteur de son cœur
un doigt accusateur
quelques secondes encore
après sa disparition
l’ongle persiste
qui s’enfonce dans sa poitrine
l’ongle qui égratigne profond
qui ouvre la peau
pour faire sortir le sang
elle n’est déjà plus là
il a beau forcer les yeux
ouvrir la bouche
comme s’il allait parler
elle n’est plus là
la sorcière de Blanche-Neige
dans un film de Disney
qui passe à la télé
un ongle resté sur sa poitrine
encore
la sensation étrange
d’avoir perdu l’image
avant que le téléviseur
ne soit fermé
Ela avançava
Louis-Philippe Hébert
Extraído de “Vieillir”(“Envelhecer”) , Éditions Les Herbes Rouges, Quebec, Canadá, 2011
Tradução para o português : Patricia Tenório
Ela avançava
o dedo que apontava diante dela
como se todo seu corpo seguisse sua unha
ela tremia, ao que se parece
com a maldade
de tal maneira que ele se perguntava
se ela não iria entrar em colapso
sob seus olhos
deixando nos ares
na altura do seu coração
um dedo acusador
alguns segundos ainda
após sua desaparição
a unha persiste
que afunda em seu peito
a unha que arranha profundo
que abre a pele
para fazer sair o sangue
ela não está mais lá
ele bem forçou os olhos
abriu a boca
como se ele fosse falar
ela não está mais lá
a bruxa de Branca de Neve
em um filme de Disney
que passa na tv
uma unha permaneceu em seu peito
ainda
a sensação estranha
de haver perdido a imagem
antes que a televisão
seja desligada
A Paz Quase Impossível
Reynaldo Valinho Álvares
Revista Ellipse: Textos literários canadenses em tradução, nº 84-85 – Brasil-Canadá, Frederiction NB, Canadá, 2010.
1
Eram tantos os gumes afiados
que retalhavam tua carne aflita,
eram tantos os gritos afogados
no sangue-oceano dessa dor maldita,
que te trancaste para sempre aos brados
e te encerraste nessa absurda cripta,
sem que possas pastar nos verdes prados,
para mugir a angústia que te agita.
Preso a algemas, correntes, cadeados,
tentas a fuga, mas quem acredita
que escaparás à pena dos forçados?
Bates nas grades mas, enquanto grita
a alma ferida por punhais irados,
o mundo inteiro te renega e evita.
(…)
The Nearly Impossible Peace
Reynaldo Valinho Álvares
Revue Ellipse: Textes littéraires canadiens en traduction, nº 84-85 – Brasil-Canada, Frederiction NB, Canadá, 2010.
Translation into english : Paulo da Costa
1
So many were the sharp edges
that shredded your troubled flesh,
so many were the drowned screams
in the blood-ocean of that damned pain,
that you forever barricaded yourself in shouts
and sealed yourself off inside that absurd crypt
unable to graze the green meadows
to bellow the anguish that disturbs you.
Locked to handcuffs, chains, shackles,
you attempt an escape, but who believes
that you’ll escape the sentence of the inmates?
You bang on the bars but, while
the wounded spirit in irate daggers screams,
the whole world avoids and disowns you.
(ellipsemag@gmail.com)
Alone with the Terrible Universe
Alan Britt
Extracted from “Alone with the Terrible Universe”, CypressBooks, Rio Rico, Arizona, USA, 2011
My shadow
attacks
the cedar
lattice
that surrounds
the patio.
Lamplight
flickering thick September maples
splotches
the muscular cedar boards.
A dog,
a small brown and white
dog barks
across a dark sea
of crickets
all hunched together
like millions of glistening coquina shells
on a black shore.
Sozinho com o Terrível Universo
Alan Britt
Extraído de “Alone with the Terrible Universe”(“Sozinho com o Terrível Universo”), CypressBooks, Rio Rico, Arizona, EUA, 2011
Tradução para o português: Patricia Tenório
Minha sombra
ataca
o cedro
treliça
que cerca
o pátio.
Luz de lâmpada
cintilando espessos bordos de Setembro
mancha
as placas de cedro muscular.
Um cão,
um pequeno marrom e branco
cão late
através do escuro mar
de grilos
todos juntos debruçados
como milhões de brilhantes conchas coquina
em uma negra costa.
(alanbritt@comcast.net)
DIÁLOGOS
DIALOGUES

(Foto de Sorina Şuşnea. Photo from Sorina Şuşnea.)
To Sorina
Patricia Tenório
05/28/13
Don’t waste your time
Thinking about time
Time doesn’t care
About us
About itself
About life
Let it be
What it has to be
What it has to go
What it’s ment to come
Somehow someday
We’ll join the strings –
The real conections
The senses colections
Of our dreams
Of our loves
Don’t waste your time
Thinking about time
Time doesn’t care
Even about life
Para Sorina
Patricia Tenório
28/05/13
Não perca tempo
Pensando no tempo
O tempo não liga
Para nós
Para si
Para a vida
Deixe ser
O que tem de ser
O que tem de ir
O que tem de vir
De alguma maneira algum dia
Juntaremos as pontas do cordão –
As conexões reais
As coleções de sentidos
Dos nossos sonhos
Nossos amores
Não perca tempo
Pensando no tempo
O tempo não liga
Até mesmo para a vida
Breath after breath
Sorina Şuşnea
05/29/13
Mind floating like the sun’s petals
The cry of the bird sweeps the ground
And every corner hides the light.
It is about you!
The way you want to hold
Between fragile and cautious fingers,
Breath after breath,
The motionless steam of the forest.
Yes, the time!
Its river, swirling army of seconds,
Takes your beat and hangs it
In the red tree.
Respiração após respiração
Sorina Şuşnea
29/05/13
Tradução para o português: Patricia Tenório
Mente flutuando como pétalas de sol
O grito da ave varre o chão
E cada canto esconde a luz.
Trata-se de você!
A maneira que você deseja prender
Entre os dedos frágeis e cautelosos,
Respiração após respiração,
O vapor imóvel da floresta.
Sim, o tempo!
Seu rio, exército rodopiante de segundos,
Toma sua batida e a trava
Na árvore vermelha.
(thebrightred@gmail.com)
(Foto de Charles P. Hayes. Photo from Charles P. Hayes.
http://charleshayes.wordpress.com/category/moon/)
Punctum*
Patricia Tenório**
07/06/12
O punctum
No meio do mundo
Mordeu minha língua
Extravasou
Meu ser imundo
Lavou-me a alma
Aquietou a calma crescente
De solidão
E dor
Queria ser
Aquele ponto
Onde tudo começou
Mudar o destino
Da minha humanidade
Da mãe
Do pai
Dos meus irmãos
Fazendo-nos ser
Família
Fazendo-nos ser
Respeito
Fazendo-nos ser
União
O punctum
No meio do mundo
Nunca mais será o mesmo
Nunca mais verei o mar
Tombar os braços nos meus braços
Enxugar as lágrimas de sal
Em ondas no meu rosto
Inundar o peito
De esperança
E cor
Para dar luz
A uma nova era
Sem laços
Sem fronteiras
Sem guerras
Nem religiões
Deus passando por mim agora
Fez tudo isso
E disse que era bom
_____________________________
* Segundo Roland Barthes em A câmara clara ((1980) em 2011, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, p. 36), o “punctum de uma foto é esse acaso que, nela, me punge (mas também me mortifica, me fere)”.
** www.patriciatenorio.com.br e patriciatenorio@uol.com.br
Punctum*
Patricia Tenório**
05/24/13
To Charles P. Hayes
The punctum
In the middle of the world
Has bit my tongue
Overflowed
My unclean being
Washed my soul
Quieted my growing calm
Of solitude
And pain
I’d like to be
That point
Where everything started
Change the fate
Of my humanity
From mother
From father
My brothers
Making us being
Family
Making us being
Respect
Making us being
Union
The punctum
In the middle of the world
Never more it’ll be the same
Never more I’ll see the sea
Topple its arms into my arms
Wipe the tears of salt
In waves on my face
Flooding the chest
Of hope
And color
To give light
To a new era
Without ties
Without borders
No wars
Neither religions
God passing through me right now
He did all of this
And said it was good
_____________________________
* Acording to Roland Barthes in The clear camera ((1980) in 2011, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, p. 36), the “punctum of a photograpy is this coincidence that, in it, stings me (but that also mortifies me, hurts me)”.
** www.patriciatenorio.com.br and patriciatenorio@uol.com.br