Dois poemas e uma crônica de Patricia Tenório
RENASCENÇA*
Casinhas pintadas
Na paisagem silvestre
De um vilarejo esquecido
Me fazem lembrar
Que um dia amei
E não lembro mais
O gosto da língua estrangeira
O toque dos dedos alheios
Quero sim amar de novo
Amar
Com sabor
De outra vida nascida
Quero o todo
A começar pelos ventos nos moinhos
Surgindo nos meus pensamentos
Renascença – D´Agostinho – Com Karynna Spinelli & Carlos Ferrera
ARCO-ÍRIS**
A dor alivia
Por um segundo
Entro
Na lua nova
No mar aberto
De Maracaípe
Uma chuva fina cai e mistura
O sal
A água
A luz que vem de dentro
E uma amiga-irmã me chama
– Vem, vem
Para além do arco-íris
Arco-Íris – D´Agostinho – Com Karynna Spinelli & Carlos Ferrera
A ONDA CINZA***
Deixo passar meu olhar através da janela do quarto. Vejo o mar de um azul tão azul quanto o céu que o cobre. A linha do horizonte é quase imperceptível, faço esforço para distinguir um navio cargueiro, corta o imenso oceano em direção ao que ignoro. Leva alguma coisa para alguém do outro lado do Oceano Atlântico.
Retornei faz duas semanas ao Brasil, meu país natal, o lugar onde construí toda minha vida. Permaneci na França, Paris, durante quatro meses, quase cinco, mas parece um outro tempo. Penso que era outro tempo quando ainda estava lá, do outro lado do Oceano Atlântico, do outro lado do meu país.
Porque não me sinto nem aqui nem lá; me sinto a caminho, não posei meus pés em lugar algum. Estou em viagem.
As ondas tombam na praia, uma após a outra, elas tombam. Vejo a brancura que brilha sob o sol do verão brasileiro, o verão do nordeste do Brasil. Jamais vi, em qualquer outro lugar do mundo, esta brancura. Fui ao Caribe e ela não estava lá. E mesmo em Paris, A Cidade Luz, não existe a mesma claridade.
O coração está dividido, entre a solidão no meio de meus amigos, filhos que me tocam e não me sinto totalmente plena; um toque de anjo que vem, se levanta ao mais alto de sua força e cai novamente com todo poder sobre a areia da praia.
A onda morre, se recolhe no mar infinito, busca uma força absoluta para continuar uma existência acabada, uma ressurreição.
E eu, eu que não sei onde habito agora, no país da névoa cinza, no país do sol que corta com a luminosidade, eu que desejo o momento de ser acolhida pelo absoluto e permanecer eterna, suspensa, efêmera.
Uma simples onda cinza.
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* Texto extraído de D´Agostinho, 2010, Editora Calibán.
** Texto extraído de D´Agostinho, 2010, Editora Calibán.
*** Texto extraído de Grãos, 2007, Editora Calibán.
**** O mar aberto de Maracaípe – PE – Brasil.